Litoral Sul de Pernambuco (Parte 1)
Caros Geoleitores, como vão?
Bom, hoje vou falar de áreas costeiras...
Quem conhece o Litoral Sul de
Pernambuco é unânime em dizer que o lugar é lindo, que tem praias fantásticas, que
o clima maravilhoso, com sol o ano todo, águas quentes... etc, etc...
No entanto, venho falar do Litoral
a partir de outro ponto de vista, numa ótica que muitos desconhecem, em sua
vertente geológica e histórica.
Mas antes, é importante
definirmos o território que compreende o Litoral Sul. O litoral de Pernambuco foi
divido em 03 setores. O setor Norte, setor Metropolitano e setor Sul. (Setorização do Litoral de PE)
O setor Sul, ficou com sete
municípios (Cabo de Santo Agostinho, Ipojuca, Sirinhaém, Rio Formoso,
Tamandaré, Barreiros e São José da Coroa Grande) e como são muitos lugares
legais pra falar vou dividir as postagens por municípios.
Começando então com o município do
Cabo de Santo Agostinho e suas
praias maravilhosas encravadas em rochas de grande importância na historia
geológica da Terra e também na historia dos primeiros habitantes que ali
viveram e tiraram das rochas matéria prima para suas edificações.
Praias de Itapuama e Pedra do Xaréu ou Praia das Pedras pretas
As praias são bastante visitadas,
em Pedra do xaréu é possível a prática do surfe. Também é chamada de praia das
pedras pretas, tendo inclusive um bar e pousada com este nome.
O que pouca gente sabe é que
essas “Pedras pretas” são rochas vulcânicas. Um derrame de lavas escuras formou
essa rocha conhecida geologicamente como “Traquitos”.
Esse evento está relacionado à
separação do grande continente Gondwana, que deu origem aos continentes
Africano e Sul-americano, além do oceano atlântico. Foi um momento de muita
movimentação e têm-se registros vulcânicos em vários pontos da zona costeira
sul de PE.
Rochas Vulcânicas, conhecidas regionalmente como "Pedras Pretas" e cientificamente como Traquitos. |
Calhetas
Calhetas é uma praia bem pequena,
numa baiazinha charmosa, rodeada de blocos rochosos e de ruínas históricas. Esta
região que envolve a praia de Calhetas, também tem as praias de Gaibu, Paraíso e
Suape.
Praia de Calhetas (Sentido norte - Sul) |
Praia de Calhetas (Sentido Sul - Norte) |
Ali, vemos um grande promontório, ou seja, uma área mais alta, geologicamente chamada de um Stock* ou afloramento rochoso. Trata-se do conhecido, Granito do Cabo. É uma rocha diferente dos traquitos lá da Pedra do Xaréu.
O granito também é uma rocha magmática, assim como os traquitos. No entanto, a primeira é chamada de Plutônica ou intrusiva, pois se formou no interior da terra. Enquanto a segunda, é conhecida na literatura como vulcânica ou extrusiva, pois se formou após o magma (em forma de lava) chegar a superfície.
O granito é conhecido entre a comunidade científica por ser o granito mais novo do Brasil, possui apenas 102 milhões de anos. Pra nós, seres humanos, parece muito não? Mas para o tempo geológico, ou seja, em comparação com a idade da Terra é pouca coisa.
Esta rocha e suas formas, trabalhadas ao longo de anos e anos através do intemperismo e da erosão, dão uma beleza singular a esta área, o que lhe confere um caráter único em todo litoral do estado.
As belezas dessas formas ganham ainda mais valor quando associadas às ruinas históricas, ali construídas a partir do século XVI. Essas edificações foram construídas com as rochas encontradas na própria região, nesse caso a maior parte da matéria prima é o próprio granito. Também é possível observar, ainda preservadas, o acabamento em portas e janelas, onde foram utilizados os arenitos de praia. Aqueles que vemos em vários pontos das praias de Pernambuco e que chamamos de “Recifes”.
Esses recifes ou arrecifes, que deram inclusive o nome a capital pernambucana, são rochas sedimentares (provenientes de sedimentos) que se formaram ao longo da costa, com o avanço e recuo do mar. (Arrecifes, a Calçada do Mar de Recife, PE)
Estas rochas eram trabalhadas, em uma arte chamada cantaria. Onde os artistas da época esculpiam a rocha, com desenhos dos mais variados possíveis.
Vale lembrar que estas ruinas e grande parte do granito, estão inseridos no perímetro do Parque Metropolitano Armando de Holanda Cavalcanti, e embora não tenha um centro de visitantes para recepção e/ou orientação é possível encontrar alguns seguranças em motos circulando pelas principais áreas. Na Vila de Nazaré, ponto mais alto da área e onde se encontra a conhecida Igreja de Nazaré e as ruinas do antigo convento Carmelita, há também uma base do Exército Brasileiro.
Ruinas da Casa do Faroleiro, construída sobre o granito - século XIX. |
Igreja Nossa Senhora de Nazaré, construída na Vila de mesmo nome em 1597. |
Ruinas do Quartel Velho, construção do século XVI |
No canto esquerdo da foto, as ruinas do Forte Castelo do Mar. A imagem registra a passagem do amigo e geólogo paranaense Gil Piekarz em terras pernambucanas. |
Bom, por hora é isso. Mas, logo
volto com a segunda parte, falando um pouco dos Geodestinos do litoral do município
de Ipojuca.
Até a próxima...
* Stock - Intrusão plutônica de dimensões menores do que às de um batólito e com área aflorante ou com área de afloramento potencial por erosão de, no máximo, 100km2.
Glossário Geológico = http://sigep.cprm.gov.br/glossario/
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